Especial: Para Reach, ingerência vai impactar caixa e desinvestimentos da Petrobras (PETR4)

São Paulo, 23 de fevereiro – A troca de comando na Petrobras, códigos PETR3 e PETR4, e a pressão para que os preços praticados pela companhia permaneçam abaixo da paridade internacional devem reduzir tanto a geração de caixa quanto o lucro operacional, e prejudicar a venda de refinarias e outros ativos não essenciais, de acordo com a Reach Capital.
EBITDA e caixa da empresa seriam afetados por mudanças na política de preços
Qualquer tipo de esforço para evitar que a Petrobras reajuste os preços dos combustíveis ou desacelere seu processo de redução de dívida deve acarretar queda no EBITDA, uma medida de lucro operacional e no caixa da companhia de mais ou menos 10% já no primeiro trimestre, disse Henrique Lara, analista e sócio da Reach Capital, que tem mais de R$200 milhões sob gestão.
“Não faz sentido ficar em uma empresa que não se beneficia do preço da commodity”, disse Lara em entrevista à TC Mover, justificando a zeragem da posição que a Reach tinha na Petrobras.
Segundo ele, os preços dos combustíveis da Petrobras chegaram a rodar em janeiro com 15% abaixo da paridade internacional. A ingerência do governo, marcada pela demissão inesperada de Roberto Castello Branco como diretor-presidente, deve intensificar o rombo na área de refino, cuja “abertura ficou prejudicada, assim como as margens também”.
Mercado está apreensivo após mudança na presidência
A posição da Reach reflete em grande parte a apreensão do mercado com uma mudança na política de preços de combustíveis e a governança da Petrobras com a saída de Castello Branco. Impedir o ajuste nos combustíveis em meio à reflação do petróleo é uma preocupação, mas pode nem ser a maior, de acordo com analistas.
Como as consequências do movimento iniciado pelo presidente Jair Bolsonaro são imensuráveis, o mercado deve penalizar as ações da Petrobras de forma semelhante ao que foi observado em momentos de alta instabilidade no país. O valor intrínseco e a elevada geração de caixa da companhia devem ser ignoradas até as incertezas desaparecerem.
Petrobras teve perda de R$100 bilhões em valor de mercado
A troca levou ao derretimento das ações da empresa na B3 e dos recibos de ações negociados na bolsa de Nova Iorque, os ADRs. Entre a última sexta-feira, 18, e ontem, 22, a Petrobras perdeu R$100 bilhões em valor de mercado. Outras estatais, como o Banco do Brasil, código BBAS3, e a Eletrobras, códigos ELET3 e ELET6, também tiveram queda nas ações em meio ao temor de novas intervenções do governo.
Hoje, devido a rumores sobre privatização, as ações da Eletrobras dispararam 13,01% e 10,81%, respectivamente. Além disso, as ações da Petrobras ensaiaram uma recuperação, produto das palavras de Bolsonaro em relação a Paulo Guedes e sobre a substituição na estatal.

Arte: Vinícius Martins / TC Mover
Desempenho das ações da Petrobras (PETR3 e PETR4)
O papel preferencial da Petrobras, código PETR4, fechou em alta de 12,17% a R$24,06, após queda de 20% na véspera. O papel ordinário, código PETR3, fechou em alta de 8,96%, a R$23,48. Os recibos de ações negociados na bolsa de Nova Iorque, os ADRs, com o código PBR subiram 6,68%, a US$8,47. O Ibovespa avançou 2,27%, aos 115,2 mil pontos.
Para acompanhar o desempenho das ações da Petrobras e de outras empresas, basta acessar o TC Matrix, ferramenta gratuita do TC.
Texto: Gustavo Boldrini
Edição: Guillermo Parra-Bernal, João Pedro Malar e Letícia Matsuura
Arte: Vinícius Martins/TC Mover
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