Nesse artigo, vamos discutir como a contabilidade e a matemática financeira andam juntas, e como isso pode ajudar a melhorar suas análises e te ajudar nos seus investimentos. Abordaremos os seguintes tópicos:
- Contabilidade e a matemática financeira
- Exemplo prático dessa relação
- Fechando a nossa reflexão
Boa leitura!
Contabilidade e a matemática financeira te ajudam a fazer valuation
A princípio, uma discussão que sempre vemos no mercado e na literatura, é que a contabilidade mostra apenas uma fotografia do passado. Isso é efetivamente verdade? Não no todo, mas em partes. Nesse sentido, precisamos entender as funções dos regimes de competência (controle das entradas passadas, presentes e futuras de caixa) e do regime de caixa (passado).
Dessa forma, quando estudamos o básico de matemática financeira, aprendemos a mensurar o valor presente líquido (VPL) de um projeto, com o investimento em t0, e a projeção das entradas e saídas futuras. Trazemos então ao Valor Presente para comparação com o investimento inicial. A figura abaixo ilustra isso:

Fonte: Autor
Tudo bem, mas e os modelos de valuation? O mais famoso é o Fluxo de Caixa Descontado (FCD ou DCF). Entretanto, temos também na literatura contábil o modelo de lucros residuais (ou anormais) – Residual Income Valuation (RIV) e o Abnormal Earnings Growth (AEG), este último derivado do RIV com ajustes no EPS, que não é o propósito aqui.
Vamos a um exemplo prático de valuation
Para esclarecer, vejamos no exemplo abaixo uma simplificação (extrema), para entendermos a convergência dos modelos e valores. Suponha que a Cia CONTCX teve o seguinte balanço em t0 (início) e a Cia encerra suas atividades em t1, Logo após divulgar o resultado. Vejamos seus demonstrativos abaixo:

Fonte: Autor
O que ocorreu de t0 para t1? Algumas premissas:
- Receita = 100
- Despesa com depreciação = 20% do imobilizado a.a., a Cia só tem 2 períodos
- Taxa de desconto = 5%.
Dessa forma, o conceito de lucro residual/anormal, define que o lucro deveria ser superior ao patrimônio líquido anterior, multiplicado pelo custo de capital. Assim:
- Lucro Líquido t1 – (Patrimônio Líquido t0 x Taxa %)
Se for positivo (negativo), a Cia gera lucro anormal superior (inferior) ao seu capital investido.
Contudo, no exemplo em questão, para calcular o RIV, num modelo de valuation, seguimos os seguintes passos:
- RIV: Patrimônio líquido em t0 + Somatório dos lucros residuais futuros trazidos ao valor presente (similar ao DCF), ou seja:
- Lucro Residual/Anormal (Lat): 84 – (100 x 5%) = 79
- O Lat em t0 trazido a valor presente (Lat/(1.05) = 75.24
- Lat + cx em t0 = 75.24 + 20= 95.24
- Por fim, Lat + cx + PL = 75.24 + 20 + 100 = 195.24
Como a Cia encerrou suas atividades, somei o Caixa disponível.
Vejamos agora, na visão do DCF:
- FCLF t1 (Lucro líquido + Depreciação) = 84 + 16 = 100.
- FCLF em t0 (FCLFt1/1.05) = 95.24
- Fcx + cx + imob = (95,24 + 20 + 80) = 195.24 (nesse caso somei o investimento inicial no imobilizado)
Fechando a nossa reflexão sobre valuation
Vejam que coincidência (rs), o mesmo valor!
Claro, esse é um exemplo com muitas restrições. Entretanto, para ilustrar que os lucros e os fluxos de caixa convergem no longuíssimo prazo. Todavia, nesse intervalo de tempo entram outras questões que estamos vendo por aqui que podem interferir nos lucros (câmbio, receitas/despesas financeiras, valor justo etc).
Por isso, é sempre bom usarmos diferentes abordagens para monitorar a convergência do valor encontrado ou das premissas utilizadas.
Leia mais sobre contabilidade e valuation e bons investimentos!

Professor da UFES, Gestor de clube de investimento
Autor de artigos científicos publicados nacional e internacionalmente e dos livros “Fundamentos de Contabilidade para os Negócios” e “Contabilidade para Pequenas e Médias Empresas”.