No livro “Arriscando a própria pele”, Nassim Nicholas Taleb expõe os seus ensaios sobre assumir riscos, e como a transferência de riscos entre os indivíduos, empresas e governos acarreta numa série de assimetrias em nossas vidas.
Boa leitura!
Skin in the game
O livro arriscando a própria pele, de Nassim Nicholas Taleb foi lançado em 2017, e está ligado ao que Taleb intitula como PROJETO INCERTO, dos quais fazem parte os livros: “Iludidos pelo acaso”, “A lógica do cisne negro”, “A cama de proscrustes” e “Antifrágil“. Dessa forma, o ideal é ler os livros do projeto incerto de acordo com a ordem de publicação, começando por iludidos pelo acaso. Entretanto, você pode ler arriscando a própria pele antes dos demais, assim como eu fiz (risos).
Em primeiro lugar, arriscando a própria pele (e os demais livros), não tratam apenas de mercados financeiros. Reduziríamos de forma significativa o arcabouço teórico contido nos livros de Taleb ao classificá-los apenas como “livros sobre mercados”.
Nesse sentido, cada livro constitui um “pedaço” do projeto incerto, como se cada um conversasse com o outro. Seus ensaios nos fazem refletir no quanto estamos à mercê das não-linearidades da vida, incluídos aí o acaso e os eventos inesperados, ou cisnes negros. Nesse sentido, cada livro trata de um conceito chave ligado a incerteza (área de especialidade do autor), como por exemplo: Engano pelo acaso e pela sorte, lógica do Cisne negro e Antifragilidade.
Arriscar a própria pele como filosofia de vida
Como falei anteriormente, arriscando a própria pele não se refere apenas aos mercados financeiros. Nesse sentido, Taleb defende que arriscar a própria pele deve ser encarado como uma filosofia de vida. Ou seja, você não pode lucrar enquanto transfere riscos para outros, assim como fazem algumas corporações (públicas e privadas). Apenas você é responsável pelos seus erros, e apenas você deve pagar por eles, não transferindo-os a outrem. Dessa forma, colocar a pele em jogo (Skin in the game) se aplica a todos os conceitos da vida.
Além disso em todo o livro, o autor faz uma série de críticas, a todos aqueles tomadores de decisões que afetam a vida de outras pessoas, e que não arcam com as consequências de seus erros. Para Taleb, não podemos fugir da realidade ao permitir que pessoas boas apenas em explicar e não em fazer nos liderem. Em outras palavras, Taleb expõe esse pensamento: “Aqueles que falam, deviam fazer. E somente os que fazem deviam falar”.
Mas o que é arriscar a própria pele?
Em seus ensaios, Taleb expõe que, na ausência de equidade ao assumir riscos, criam-se diversos tipos de assimetrias entre os indivíduos (pessoas, empresas, governos etc.). Nesse sentido, arriscar a própria pele faria com que esses problemas de assimetria fossem atenuados. Vejamos alguns exemplos dessas assimetrias, que não necessariamente estão descritas no livro:
Conflitos de agência
Pense como acionista das empresas que fazem parte da sua carteira. Você paga para que os gestores da empresa administrem a companhia em seu nome. Entretanto, diversos conflitos de interesse podem ocorrer dessa relação entre agente x principal.
Nesse sentido, os gestores podem tomar decisões que beneficiem a eles, e não ao acionista (LAMBERT, 1984). Há uma vasta discussão, sob vários aspectos na literatura de finanças, iniciando com Jensen e Meckling (1976), dando suporte para outros ramos de pesquisa, como por exemplo, o gerenciamento dos resultados contábeis, incialmente debatido no paper de Healy (1985).
Burocratas, políticos e outros que não pagam por seus erros
Pessoas que não estão com a pele em risco, podem tomar péssimas decisões, sem nem ao menos saber das consequências de seus erros nas vidas das pessoas. Taleb cita a intervenção para “retirar um ditador” feita na Líbia, onde após o fim da intervenção, iniciou comércio de escravos. Qual o preço que os burocratas intervencionistas pagaram por essa aventura? Nenhum. Qual opreço deveriam pagar? Bom, segundo Taleb algum preço.
Da mesma forma, em uma entrevista à Bloomberg News, Taleb cita como exemplo de assimetria, a diferença no comportamento dos indivíduos ao assumirem dívida pública x dívida privada. A dívida privada é feita por pessoas que estão com a pele em risco. Em caso de não pagamento, os credores podem punir essas pessoas de diversas formas. Por outro lado, a dívida pública é feita por indivíduos que não estão com a pele em risco (políticos e burocratas), o que pode fazer com que essa situação saia do controle
Estar vivo significa assumir certos riscos
Por fim, podemos interpretar o conceito de arriscar a própria pele como vestir a camisa de tudo aquilo em que acreditamos. Para Taleb, apenas quando se arrisca a própria pele, é que se reduz as assimetrias por ele elencadas. Nesse sentido, defende o autor: tome cuidado quando uma pessoa diz que algo é bom para você, sendo que também é bom para ela, ao passo que apenas você corre o risco. Taleb fornece um importante insight para os investidores: não importa o que uma pessoa fala sobre investimentos, peça para que ela lhe mostre seu portfólio…
Procurei fazer um resumo muito breve dos conceitos do livro. Há muito mais a ser explorado pelo leitor.
Nassim Taleb no Google Talks (Skin in the game):
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Referências
HEALY, P. M. The effect of bonus schemes on accounting decisions. Journal of Accounting and Economics, v. 7, n. 1–3, p. 85–107, 1985.
JENSEN, M. C.; MECKLING, W. H. Theory of the firm: Managerial behavior, agency costs and ownership structure. Journal of Financial Economics, v. 3, n. 4, p. 305–360, 1976.
LAMBERT, R. A. Income Smoothing Equilibrium as Rational Equilibrium Behavior. The Accounting Review, v. 59, n. 4, p. 604–618, 1984.

Analista de conteúdo | Mercado financeiro no TradersClub
Contador, Mestre em Ciências Contábeis. Foi professor/pesquisador do departamento de contabilidade da UFRN e atuou em contabilidade de S.A. É investidor com base em análise fundamentalista.